Publicado desde 1969
Fundado por José Carlos Tallarico

Tocados pelo Ressuscitado

A santidade não é para os perfeitos – é para os que não desistem de buscar por ela

Após a crucificação e morte de Jesus, seus discípulos ficaram desolados, com o sentimento de abandono e, por medo da perseguição e morte iminente, se esconderam. Mas, quando Jesus apareceu no meio deles, eles ficaram cheios do Espírito Santo e assim, por essa força foram capazes de enfrentar tudo, até mesmo a própria morte. Contudo, Tomé não estava presente entre eles. Por qual motivo não estaria junto aos demais não sabemos, podemos apenas fazer suposições …

O texto sagrado revela que os discípulos contaram a Tomé que Jesus havia aparecido a eles, que esteve presente em carne e osso, porém, ele não acreditou e ainda assegurou que precisaria ver para crer (essa frase ficou célebre). Veja que Tomé, não estando reunido com os demais, sofreu uma grande perda: teve que esperar para poder tocar o Senhor, colocar o dedo em Suas chagas. Mas, assim que ele O encontrou proclamou para todos: “Meu Senhor e meu Deus”!

Note que Tomé, por alguma razão, se afastou dos demais, talvez o desânimo ou mesmo a incredulidade tenha tomado conta de seu ser (já se viu assim diante de alguma doença grave – diante da chegada da morte para alguém que muito ama?).

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Contudo, quando decidiu retornar foi recebido pelo Senhor. Essa compreensão me fez ver as escolhas que tenho feito, às vezes em que perdi o encontro com Jesus, por qualquer que fosse o motivo. Por vezes, podemos dar prioridades a outras coisas – coisas e situações que não envolvem a Presença de Deus. Pode ser na recusa em nos colocarmos em oração; recusa em ler, ouvir e meditar a Palavra – em nos recolhermos em nosso interior, em silêncio, com tempo para ouvirmos o Senhor – com tempo para fazermos o bem. E tudo isso exige de nossa parte uma decisão radical por Deus!

Repare que Tomé não somente tocou mas foi tocado pelo Senhor. Mas como ser tocado? Certamente essa é uma questão profunda, que demandaria muitas reflexões. Mas ouso dizer que o primeiro passo é a nossa decisão por Cristo. A nossa perseverança, a constância e determinação pessoal por estar diante da Presença, por permanecer nEle, fazendo renúncias em prol do bem, da caridade.

Talvez não consigamos ter a real percepção das mudanças ocorridas em nós mesmos, mas, os de nosso convívio certamente perceberão. A realidade é que aquele que foi tocado pelo Ressuscitado jamais será o mesmo. Assim como os discípulos que, após a morte de Jesus tiveram suas vidas transformadas ao receberem a Presença do Espírito Santo.

Note que o temperamento de João sofreu uma transformação tão forte que ele escreveu um Evangelho que se diferencia dos demais (chamados de Sinóticos), pois, nele o discípulo revela um Deus de amor, misericordioso, um Deus jamais visto antes em toda a história da humanidade, porque nos é apresentado como Pai e nos trata como “filhinhos amados”. João, chamado no início de Boanerges por Jesus, uma palavra de origem aramaica que significa “filhos do trovão”, pois, tinha um temperamento difícil, ao ser tocado pelo Mestre teve sua vida totalmente transformada. Tornou-se outra pessoa, passando a expressar somente o amor.

Podemos ter limitações, vulnerabilidades, em um temperamento difícil, expressarmos ressentimentos, com dificuldade em ofertar ao outro o perdão ou até mesmo vícios que nos aprisionam, ferem nossa dignidade de filhos de Deus, todavia, ninguém que tome a decisão de estar com o Senhor permanecerá o mesmo. A partir do momento em que Ele nos toca seremos transformados em novas criaturas. Se ainda não nos modificamos é porque ainda não houve a conversão (metanóia).

Para finalizar, gostaria de recordar parte da história de Santa Terezinha, a menina que se achava pequena demais para ter atitudes grandiosas e heroicas como dos consagrados mártires e santos, que se imortalizaram por entregarem suas vidas a Deus, diante das renúncias e sacrifícios que fizeram e por morrerem em nome deste amor. Assim, Terezinha, buscando agradar a Deus, em sua humildade e delicadeza de alma (amo isso), descobriu que poderia subir as escadas para o céu por um caminho diferente, chamado de “Pequena via”.

Para tanto, devemos procurar fazer tudo com muito amor, desde os mais pequenos gestos, ações, todo trabalho que realizarmos feito com muita caridade, com dedicação e respeito ao outro, mas, tendo como princípio o Cristo escondido em cada pessoa. Todas as nossas ações direcionadas ao olhar do doce Jesus – feitas por amor a Ele.

Revela ainda um detalhe muito importante: não contarmos com nossas próprias forças para alcançarmos a santidade, pois, certamente falharemos. Colocarmos toda a nossa fé, toda a nossa esperança no poder da Graça. Diante dos problemas, situações ou crenças limitantes que podem nos paralisar, nos fazer sofrer, diante das injustiças ou na dificuldade que possamos ter em ofertar amor àquelas pessoas mais difíceis (de coração duro) de nosso convívio, contarmos sempre com o auxílio do Espírito Santo.

E o que revelará se fomos realmente tocados será o fruto de nossas obras, pois, “pelos frutos conhecereis a árvore”.

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com

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