O dia amanheceu de uma noite feliz: noite de Reis Magos, estrelas do Oriente e animais em uma estrebaria. Os anjos cantaram “Aleluia” em saudação ao Menino que acabara de vir ao mundo. Nasceu a luz da luz, que iluminou a escuridão e trouxe alegria à noite. Um novo reinado se iniciava entre os humildes, e a harmonia de uma nova humanidade emergia: do caos ao cosmos, o equilíbrio se revelava. O amor que transpassa, refaz e ultrapassa o tempo que se tornou eterno na eternidade do próprio amor.
Um sol para os dias e depois a chuva sob a sublime melodia que encanta e suaviza o coração do mundo. O Rei se fez servo e se pôs a serviço. Mas o mundo ainda não compreendeu, qual é o Seu reinado. Os suntuosos palácios que rigorosamente abrigam sua majestade era uma estrebaria, e juntos aos animais a noite se fez luz sob o brilho da estrela de Belém.
Nasceu o Menino, e o olhar do mundo transcendeu. Ele iluminou caminhos, semeou o jardim da vida e saciou com Sua essência. O mundo conheceu a paz, embora nem sempre a vivencie. Esse amor cuida de nós, aliviando dores e curando feridas em corações sangrando e olhares perdidos no vazio da existência.
Nasceu o amor, um amor criança. A criança pobre que enriqueceu o mundo, não com a riqueza dos homens. Esse amor não é mérito, não é meritocracia. Deus nos ama não pelo que merecemos, mas porque necessitamos. Temos fome de alimento que sacia o corpo e nutre a alma – o pão de cada dia, ausente em tantas mesas vazias.
Por que há mesas vazias? É a ausência de amor que desnutre a alma e fragiliza o espírito. O Menino nasceu, trazendo o amor para nos alimentar. Mas onde está esse amor? A humanidade segue conturbada. Será que ainda não aprendeu a amar? O Menino de Belém nos ensinou, mas continuamos a rejeitar sua mensagem. Não aprendemos ou não queremos entender.
Nasceu o Menino. É Natal. Nasceu o Natal em uma manjedoura, entre os animais. Um amor menino para a humanidade. Ainda assim, insistimos em trocar sua mensagem por aparências e superficialidades. Nos púlpitos e altares, Sua palavra é proclamada, mas nem sempre nutre a alma ou fortalece o espírito. Mesmo assim, o Menino renasce. Ele nasce todos os dias, mas não O vemos, não O sentimos.
É Natal, mas trocamos o Natal do Menino pelo natal do mercado. Luzes brilham, mas apenas na superfície, sem iluminar a profundidade de nossos corações. Vivemos tempos vazios e hostis, com corações endurecidos. Onde está o Natal? Como vivenciá-lo? Estamos tão ocupados que esquecemos o valor das pequenas coisas. No inesperado, reside a beleza que pode nos oferecer os momentos mais sublimes.
É Natal, sempre será Natal para aqueles que acreditam na força da partilha, da solidariedade e no profundo sentimento do amor. Esse amor que nos une como seres humanos e filhos e filhas de Deus. Que neste Natal sejamos mãos que ajudam, braços que acolhem e vozes que proclamam o bem viver.
Que o Natal seja um constante renascimento. Que novos tempos, atitudes e sonhos floresçam. Nasceu o Menino, o Deus que se humanizou para nos humanizar. Que Ele faça morada em nós, eternizando seu espírito em nossas vidas e transbordando amor para todos os corações. Que sejamos pontes, derrubando muros e promovendo a paz. Que sejamos fonte de vida para irrigar os dias vindouros, florindo caminhos, mentes e corações.
Neste Natal, acolhamos o Deus da vida no próximo que precisa de nós. Que a alegria do Natal alcance todos que amam sem medida e acreditam na lógica do amor: o amor que é, por si só, suficiente. Que o pão de cada dia nos encha de esperança, e que sejamos mensageiros do bem, promotores da paz. Que o Natal seja poesia que brota da alma, música que embala palavras e melodias que ecoam no compasso do sino de Belém, guiando-nos no caminho do Menino que habita entre nós.
“O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jó 1,14).
Luiz Carlos de Proença – Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Capão Bonito SP – Autor do livro: O sol nas margens da noite