Esta passagem sempre me impactou profundamente. Todas as vezes que releio fico rememorando meus passos, refletindo sobre quem sou de fato, pois, sei que o que pensamos de nós mesmos pode não espelhar a realidade. A mensagem revela ainda uma maravilhosa promessa: “os puros de coração verão a Deus”. Mas como uma pessoa pode ser, realmente, pura de coração? Será que já nasce assim ou precisa frequentar alguma religião – participar de rituais?
Quando meu filho Marcos morreu retornei à religião de meus pais a qual andei afastada por longos anos (ainda me arrependo amargamente). De início, diante do sofrimento extremo que passava (e ainda passo), apesar de toda a minha fé, busquei me aproximar mais de Deus. Certamente que em um templo você sente a Presença de Deus, rememora Seus atos, medita a Palavra, recebe orientações espirituais que lhe inspirarão – que fortalecerão sua alma. Precisamos disso.
Contudo, mesmo entre pessoas que se dizem religiosas pode ocorrer a dureza de coração, a exultação do ego, em atitudes de soberba e extrema arrogância ou até mesmo da maldade. Mas não deveria ser justamente este lugar sagrado e, entre aqueles que vivem em comunidade, onde encontraríamos a paz, o acolhimento e a verdadeira caridade? Na realidade, nós mesmos podemos nos dizer cristãos mas não expressarmos pureza de coração. Judas esteve com o próprio Deus e mesmo assim não se converteu – não se deixou tocar. Ele conheceu Jesus mas não O reconheceu!
Se você meditar as Sagradas Escrituras verá que ser puro de coração representa ter o Senhor em nossas vidas: ter o “Reino de Deus” dentro de nós. Mas como podemos conseguir isso? Como podemos ser melhores diante dos problemas, sofrimentos, de pessoas mesquinhas (que parecem retirar tudo o que há de bom em nós), diante de julgamentos e agressões gratuitas?
Todos esses questionamentos exigem grandes e profundas reflexões. Mas, arrisco dizer: pedindo pela conversão, pela transformação e desejando ser amigo de Deus. Mas só conseguiremos ser amigos de Deus se buscarmos pela intimidade com Ele, na oração, pelo compromisso com o bem em todos os momentos, principalmente naqueles que mais parecem provações. E você pode escolher participar de alguma Igreja, isso certamente lhe ajudará. Em Romanos 10 vemos: “Consequentemente, a fé vem por se ouvir a mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra de Cristo”. Jesus nos exortou para que estivéssemos unidos em um Templo, trabalhando em comunidade, principalmente em favor dos mais pobres.
Mas, mesmo assim, pode acontecer de não termos intimidade com Deus. É necessário um empenho de nossa parte, uma busca (incessante) para estarmos e permanecermos nEle em todos os momentos de nossas vidas. E o primeiro passo é nos perguntarmos se há pureza em nosso coração. Perguntarmos às pessoas de nosso convívio, principalmente do nosso lar, sobre quem somos de fato. O seu lar tem que ser o seu compormisso primordial, o lugar em que você deverá exercer a “caridade”.
Como você age com seu marido, esposa, filhos, parentes, amigos? Há mansidão, bondade em seus atos? Trata as pessoas íntimas com respeito e amor? Consegue oferecer o perdão àqueles que são os mais difíceis ou mesmo intratáveis? Consegue ser generoso com quem lhe ofende gratuitamente ou lhe trata com sarcasmos?
São as pessoas do seu convívio que poderão testemunhar sua “pureza” e que desejarão, quem sabe, modificar suas condutas diante de todo o amor e dedicação que você lhes oferece! Diante de seu exemplo de amor. Creio que um grande passo é perguntarmos a Deus como estamos agindo, como podemos melhorar e pedir para que nos transforme. Conversarmos com Ele em todos os momentos, diante dos problemas, sofrimentos, como perguntaríamos a um amigo. Nesta intimidade, pedirmos pelo Espírito Santo, para que Seu Reino venha dentro de nós.
Mesmo que tenhamos passado por uma infância difícil, por traumas, sofrimentos, privações… ou mesmo diante de tudo o quanto enfrentamos hoje. Ele pode nos curar: Ele quer nos oferecer a cura – e ela é possível. Por isso precisamos pedir para que aumente a nossa fé e que nos dê um coração puro.
Hoje, mais do que nunca, tenho gratidão por todas as pessoas bondosas que entraram em minha vida e em que pude testemunhar pureza de coração. Creio que Deus as coloca entre nós, por vezes disfarçados de filhos, parentes, amigos… para nos amparar e acolher na caminhada.
E nessa minha busca por compreender como ter um coração puro, encontrei em Paulo o caminho para a pureza de coração:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria! A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. (1Cor. 13, 1-13).
Ou seja, não adianta doar todos os bens, entregar o corpo para ser queimado, se não tivermos a caridade de nada valeria. Veja a real dimensão da caridade … Seria interessante nos recordarmos dos momentos em que oferecemos ao outro a verdadeira caridade. Nesses momentos difíceis (com pessoas difíceis) você será provado: “Estai sempre prontos a responder sobre a razão da vossa esperança” (1 Pedro, 3,15).
Mas não conseguiremos praticar a caridade sem a ajuda do Espírito Santo. A Sagrada Escritura revela que os apóstolos fugiram na ocasião da morte de Jesus, porém, quando encontraram o Ressuscitado receberam o Espírito Santo. Assim, receberam a força para enfrentar todos os problemas, inclusive a própria morte.
Quando houver em nós, verdadeiramente, a Presença de Deus, seremos luz para as pessoas – nosso coração será puro.
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com