Escrevem sobre a linha do tempo, sentimentos e memórias que se perpetuam entre as pequenas ilusões, alimentando sonhos sob os vestígios da noite. São versos entrelaçados de uma poesia passageira. São dores profundas, ferimentos que o tempo não pode cicatrizar. Como diria Mario Quintana, o tempo é um rio sem margens, que nos leva sem que percebamos.
Fragmentos do nada se espelham e se acumulam às margens do caminho, levando a algum lugar indefinido. Folhas mortas e frutos podres das árvores secas enfeitam o jardim desencantado. Por que o desencanto? A ferrugem se instala entre sorrisos e olhares perdidos em um horizonte imaginário. Cecília Meireles talvez dissesse que tudo é vento, tudo é nuvem, tudo se desmancha antes de se fixar.
De repente, o de repente acontece. Há dias em que tudo parece se transformar, talvez… talvez sejam apenas noites enigmáticas, povoadas de mistérios. Mas, às vezes, nada acontece, e a vida segue – sem manual de instruções. Clarice Lispector entenderia: a existência é feita desses instantes inesperados que se dissolvem no ar.
Algo parecido com um poema. Caminhos que nos levam a muitos lugares. Uma crônica de mãos dadas com a poesia. Um tempo depois, depois de muito caminhar, a chegada ainda parece distante. O sol faz um verso e aquece o dia. A noite anoitece em poesia e amanhece em outras margens, à espera da chuva no quintal da esperança. Jorge Luís Borges escreveu que o tempo é um labirinto onde nos perdemos – e talvez seja exatamente isso que estamos atravessando agora.
A paz quer um verso, talvez para suavizar as dores do tempo e acalmar o vento. O que diz o poema da vida? Às margens de qualquer caminho, as flores buscam um lugar para viver, sublimando o sonho de um jardim que nasce em si mesmo. Como diria Manoel de Barros, há beleza nas miudezas do mundo, no silêncio das coisas que não sabem que existem.
O que diz o silêncio? Não se sabe. Ninguém ouviu. Ou, se ouviu, não quis escutar. Ou talvez não tenha entendido o que ouviu. Frases de um texto escrito sobre as linhas tortas de um horizonte que desapareceu sob os olhares quiméricos, descansando nas suaves manhãs dos dias que ainda virão.
Lápis, papel e a imaginação quase ao alcance das mãos. O silêncio em versos e as dores em silêncio, entre bálsamos e alfazemas. Amanheceu. É poesia outra vez. Os pássaros, em algazarra, cantam a alegria de voar. Lápis e papel desenham o mundo em um sorriso de criança.
Os jardins floresceram, e as palavras dizem adeus. Amanhã serão outros livros. Depois dos jardins, talvez outras poesias. Passos e palavras trilham novos caminhos, escrevem novos textos e proclamam, em todas as manhãs, aqueles que vivem em nós. Todas as cores de um mundo em preto e branco. Todo amor, todo ódio e toda a vida perdida nos labirintos da maldade.
E se a vida fosse uma poesia? E se o tempo parasse para contemplar os momentos e, neles, se eternizasse? A água de um rio que nasce da fonte infinita do amor. E, à beira do infinito, brotam margaridas e girassóis para perfumar o jardim da alma. O vento é amigo do sol e irmão do tempo. A poesia sacia a alma, fortalece o espírito e enleva o coração da humanidade.
Por que a vida dói? E o amor, também sente dor? Os dias passam como as águas cristalinas que saciam a sede dos anjos. No jardim da inocência, a doçura dos instantes repousa no sorriso da criança que dorme nos braços da esperança.
Paremos o tempo por um instante, para contemplar um pouco da vida que se esvai. Então, podemos sonhar. Quem sabe tudo isso seja apenas um sonho? Um imenso jardim semeado na vastidão e na profundidade de um coração que pulsa em cada verso de uma poesia profunda. As flores, com seus espinhos e suas essências, ferem e curam ao mesmo tempo.
Então, tudo é poesia.
Luiz Carlos de Proença – Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Capão Bonito SP – Autor do livro: O sol nas margens da noite