A música age em diversas partes do cérebro, razão pela qual se mostra tão efetiva no tratamento de inúmeras doenças. Estudos indicam que a música agradável altera as estruturas cerebrais e gera um sistema de recompensa. Pode ser usada no combate à depressão, ao estresse, à ansiedade, no tratamento de pacientes com dores crônicas, dentre outros problemas. Devido a esse reconhecimento do poder terapêutico da música é que surgiu a Musicoterapia. A música é capaz de despertar emoções e estimular interações sociais, auxiliando na recuperação do paciente. Pode despertar emoções, evocar lembranças, provocar uma série de respostas no corpo humano.
Assim, ouvir música não é apenas um lazer: pode ter efeitos terapêuticos e ser parte das estratégias de estímulo de áreas do cérebro que despertam os potenciais de aprendizagem.
Quando ouvimos uma música agradável, principalmente as que gostamos, o cérebro tende a liberar endorfina. Esse processo proporciona um alívio natural para as dores. A dopamina também é liberada, com a capacidade de provocar emoções, alterar os pensamentos, trazer otimismo, vivacidade, recarregar a energia, elevar o humor. Há uma conexão com os sentimentos internos e experiências pessoais. Repare como as músicas tendem a marcar épocas, a gravar em nossa memória momentos inesquecíveis.
Não são somente as músicas instrumentais e eruditas que são capazes de reduzir os sintomas da ansiedade, ou tratar outras doenças, como também as músicas populares, de boa qualidade. Mas também pode acontecer o contrário: músicas ruidosas, dissonantes, podem alterar a estrutura cerebral e causar ansiedade, estimular a hiperatividade, dentre outros problemas.
Já imaginou se não existissem as canções? Como seria o mundo sem a música… Não consigo sequer imaginar, pois, me acompanha em todos os momentos do dia a dia (sejam alegres ou tristes). Pense nas músicas mais bonitas que você já escutou. Fica difícil elencar algumas ou identificar as mais belas, pois outras canções ficariam excluídas. Mas, mesmo assim, arrisco rememorar algumas que acredito serem imortais diante da beleza e magnitude. Existem trilhas sonoras de filmes que marcaram época de tão magníficas; algumas foram tão impactantes que penso que sem elas o filme sequer existiria… Consegue imaginar o filme “Tubarão” sem a música tema ao fundo? Creio que sem as trilhas sonoras os filmes perderiam grande parte de sua beleza, ou impacto. Assista os filmes: “A Missão”; “Cinema Paradiso” ou “Era uma vez no oeste”, todas do magnífico Ennio Morricone, e experimente retirar a música. Ficariam desfigurados, sem sentido.
Eu ficaria descrevendo inúmeros filmes ou obras consagradas e eternizadas no tempo como: Carmina Burana, de Carl Orff, “Sonata ao Luar” de Bethoven, ou as peças de Bach, Mozart, Choppin (já incorri em pecado, pois deixei inúmeras canções de fora!). São músicas tão belíssimas que é quase impossível permanecer inalterado após ouvir estas magníficas canções.
A música (boa) possibilita a experiência da sensibilidade, de nos remeter ao Belo, ao Justo e Verdadeiro. A arte tem este poder. Consegue nos conduzir a algo mais profundo e nos afastar, por um momento que seja, de nossas mazelas, dores. Proporciona suspender o tempo, o cotidiano (quicá nos levar a pensar sobre o que estamos fazendo com nossas vidas).
A música pode nos aproximar do Eterno, nos elevar – é como se experimentássemos um pedacinho do céu… Podemos acessar nossos sentimentos, emoções, encontrar equilíbrio, paz, motivação; faz brotar a esperança, o espírito de fortaleza, para que possamos enfrentar as contingências diárias. É como se pudéssemos recarregar nossa energia e, com força renovada, devolver ao mundo um pouco de generosidade, usar de pequenas delicadezas, pequenos atos de amor, com a proposta de um mundo melhor (por mais piegas que possa parecer).
Como já descrevi, o contrário também é verdadeiro. Há músicas que possuem o poder de nos perturbar, alterar nossos sentimentos, trazer irritação, ansiedade ou nervosismo. As batidas pesadas, sincopadas, aliadas aos tons dissonantes, alteram as ondas cerebrais, entorpecem a consciência, modificam o estado emocional, podendo baixar o padrão moral (e espiritual). Repare nas músicas eletrônicas mixadas, para animação de discoteca, elas possuem um ritmo acelerado, com batidas estridentes, ruidosas, dissonantes (para mim são de enlouquecer!). Várias músicas podem nos afetar negativamente, desde o Hard Rock, em que se usam guitarras com sons metálicos e distorcidos, ou, Hap, Funk, dentre outras, em que o recurso do barulho é a meta, sem atentar para o “belo”. Com o tempo, as pessoas vão se acostumando aos sons ruidosos, distorcidos, feios. O gosto musical vai se transformando.
Importante destacar o que o apóstolo Paulo revela: “fides ex audito”, ou seja, a fé vem da audição, do ouvir. Deus criou o mundo por meio da palavra; criou um mundo harmônico, belo. A música nos afeta espiritual e fisicamente. Ela cria uma harmonia no cérebro da pessoa. Podemos ficar deprimidos ou alegres dependendo do tipo de música, pois ela afeta nosso humor, nosso comportamento, nossa alma.
Certa vez, li um livro, não me recordo se era uma lenda ou conto, que dizia que há músicas que são feitas primeiramente no Céu, inspiradas e tocadas pelos anjos, por isso são tão belíssimas… E explanava que outras são feitas no próprio inferno, diante da vulgaridade da letra e por despertarem o que há de pior, sendo convites à degradação.
Gostaria de deixar uma última reflexão: repare como as pessoas, mesmo sem perceber entoam canções. Algumas são tranquilas, amorosas, outras agitadas – ou mesmo estridentes. Penso que temos conosco um código interno, feito também com notas musicais. Quando saímos da rota, nos afastamos do bem, de Deus, desafinamos, ficamos fora do tom. E fora do tom emitimos notas dissonantes, ruidosas, que nos afetam assim como aos outros ao nosso redor.
Que música toca em você? O que os outros podem ouvir?
Tenho esperança que possamos expressar as mais belas melodias. Assim, nos momentos difíceis, confusos (ou perturbadores), embargados pela tristeza, buscarmos a harmonia, a serenidade e assim entoarmos um cântico de paz ou como um pedido de ajuda (de misericórdia). E nos momentos em que estivermos plenos, cheios de alegria e da virtude da fortaleza, entoarmos grandiosas obras musicais, em um canto inspirador, determinado, capaz de mover montanhas.
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com