Publicado desde 1969
Fundado por José Carlos Tallarico

O infinito que nos habita

Falando um pouco de tudo e ao mesmo tempo nada preenche as lacunas da imaginação. Os erros e os acertos, a mentira e a verdade, a ilusão que se renova a cada dia. A literatura humana e o paradoxo do mundo no labirinto do conhecimento. O texto e o contexto, o fazer já se desfazendo, como um feixe de luz rasgando a escuridão.

Entre dúvidas e certezas, o campo se abre, verdejante, e flores se preparam para florir. Conhecer a vida, buscar respostas, saciar a sede de entendimento. Ledo engano: se todas as dúvidas forem sanadas, extingue-se o conhecimento. Como diria Sócrates, a verdadeira sabedoria está em reconhecer a própria ignorância. A dúvida me alimenta, o saber me nutre. O racional, o irracional, os reacionários. De quantas incertezas se faz uma certeza?

O caminho se estende, e daqui onde estou vejo sua infinitude. A perplexidade de se maravilhar com a vida, como propunha Albert Einstein: “A coisa mais bela que podemos experimentar é o mistério”. A tese, a antítese, a síntese e uma nova tese: o ciclo que move o pensamento e conduz à fronteira do desconhecido. O conhecimento é um horizonte que se abre para novas possibilidades, uma ponte para o infinito dentro de nós.

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A dúvida guia o olhar para outras direções, obriga-nos a enxergar o mundo por diferentes ângulos. Como afirmava Edgar Morin, o pensamento complexo nos ensina que a certeza absoluta é uma ilusão. O conhecido se dissolve no desconhecido, a certeza se refaz na incerteza, e a inquietação inaugura novos caminhos. O conhecimento é uma ilha cercada por um oceano de perguntas: quanto maior a ilha, mais vasto se torna o mar, como bem observou John Archibald Wheeler.

Há feridas que ainda sangram, medos que habitam as vitrines do tempo. O poder, a truculência, a banalidade, os corações aflitos. Hannah Arendt nos alertou sobre a banalidade do mal, e George Orwell nos mostrou como o controle da verdade pode ser um instrumento de dominação. O saber distorcido para alimentar o ódio, a arrogância travestida de razão. A normalidade fabricada, a suposta maioria que se impõe pela força.

Mas há também o extraordinário, o esplêndido, o inexplicável. A vida pulsando em sua harmonia secreta, sintonizando-se com o todo. Como canta Milton Nascimento: “Abelha fazendo mel, vale o tempo que não voou”. O fascínio do instante, a brisa que desenha quimeras na tarde de um dia qualquer. O arco-íris refletindo o infinito.

O mundo que conhecemos é um desconhecido que desliza sob nossos olhares. A vida, seu sopro e sua vertigem, a busca humana por si mesma. E, nessa busca, perdemo-nos, mas mesmo assim vale a pena viver. Como escreveu Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. A porta continua entreaberta, os caminhos sempre à disposição. Resta-nos a coragem de adentrar e se maravilhar com o maravilhoso mundo novo.

Pelas frestas do infinito, um sopro de paz em tempos turbulentos. As portas entreabertas revelam um horizonte que cabe numa gota de simplicidade. As mãos que se entrelaçam, as estrelas que resvalam nos sentimentos e se fazem versos. O tempo voa, o sonho flutua, e as flores inquietas buscam poesia nos momentos de paz.

O que resta são lembranças, vestígios de instantes que se eternizaram. Imaginar o imaginável e a impossibilidade de não imaginar. A solidão da poesia entre os absurdos. A compaixão carece de sentimento, mas há outros dias, outros sorrisos. Raízes profundas, flores na alma.

A utopia senta-se à margem da esperança, sonhando o sonho dos girassóis. Como diria Eduardo Galeano, a utopia serve para que sigamos caminhando. Há serenidade no olhar e certeza no caminhar. Depois da tempestade, o sol das manhãs e um horizonte que se abre além do olhar.

E enquanto insultam a verdade e aprisionam a liberdade sob pretextos vazios, há ainda encantos a serem colhidos nos quintais da vida. Ainda há flores mesmo depois da primavera. A esperança resiste, sacia-se de poesia. A suavidade acaricia o amanhã. Quando os olhos se perderem no horizonte, desenharei o mundo esquecido no sonho adormecido.

Luiz Carlos de Proença – Autor do livro: O sol nas margens da noite

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