A política nos manipula, ou talvez o poder seja manipulado por ela. Ou será que os políticos fazem dela apenas uma ferramenta a serviço de interesses preestabelecidos? Somos manipulados? Somos ingênuos? A política e o poder. O poder da política. A política econômica, a política social, a política fiscal. A política e a politicagem.
Estou aqui pensando, mas o pensamento não quer ser pensado. O que diz a política? Pode dizer muitas coisas ou não pode dizer nada. Ouça o silêncio, enquanto murmúrios quase inaudíveis percorrem corredores de mármore. Discursos se enfeitam de nuances, retóricas suaves, quase sublimes. E eu sigo, tomado pelo pesadelo de um labirinto sem saída. O que me assusta? O monstro do outro lado do muro? Ou a humanidade, entre confrontos e contradições intermináveis?
Afinal, como disse Norberto Bobbio (1986), “o poder político é a capacidade de um grupo impor sua vontade a outros”. Mas até que ponto essa imposição atende ao bem comum? Hannah Arendt (1970) diferenciava poder de violência: o verdadeiro poder nasce da legitimidade e do consenso, enquanto a política corrompida recorre à coerção.
A chuva que molha a terra faz brotar sentimentos. Nutre o espírito, sacia o corpo, eleva a alma. O horizonte observa, em verso e prosa, a mensagem poética do infinito. A mente viaja, percorre trilhas nunca antes trilhadas, contempla a vida à sombra dos girassóis.
E, no entanto, somos vulneráveis. Nossas relações, frágeis – tão frágeis que nos destruímos uns aos outros por arrogância e prepotência. Somos profundos, mas escolhemos as superficialidades. Somos naturais, mas nos deixamos seduzir pela artificialidade.
Alimentamo-nos de esperança e nela caminhamos, na concretude do ser. Mas forças contrárias nos puxam para caminhos onde reinam a arrogância do poder, a ganância do ter, a cegueira da ignorância. Amartya Sen (1999), ao discutir desenvolvimento e liberdade, alertava que a política deveria garantir oportunidades reais para todos, mas, muitas vezes, serve apenas para concentrar privilégios.
Entre sonhos e esperanças, nutrimo-nos de utopias, enquanto discursos demagógicos semeiam ilusões em jardins petrificados. Antonio Gramsci (1930) chamaria isso de “hegemonia cultural”, onde narrativas dominantes são moldadas para manter o status quo, tornando a desigualdade quase invisível aos olhos da sociedade.
Por que a sociedade precisa da política? Onde nasce a política? A floresta está escura, a noite já cegou, apagaram as estrelas e a lua adormeceu. O sonho germinou outro dia e nasceu a poesia entre as estreitas margens de um caminho já esquecido.
A política, quando nasce para organizar a sociedade, deveria ser um instrumento de entendimento civilizado contra a barbárie. Mas, no Brasil, parece diferente: temos os profissionais da política e os profissionais na política. Muitos fazem dela uma engrenagem para perpetuar privilégios. Usam-na sem pudor para garantir benefícios próprios ou fortalecer seus grupos de apoio.
Favores em troca de favores. A política, pouco a pouco, foi perdendo sua essência. Deixou de ser um instrumento para o bem comum e transformou-se em meio de perpetuação do descaso. Hoje, vemos políticos legislando para si mesmos.
Nosso sistema é marcado pelo fisiologismo, essa relação promíscua entre poder e interesses privados, onde cargos e decisões são negociados como mercadoria. O “toma lá, dá cá” continua sendo a moeda corrente. Raymundo Faoro (1973) descreveu isso ao analisar a formação do Estado brasileiro e o patrimonialismo que nos acompanha desde os tempos coloniais.
Thomas Piketty (2013) demonstrou que a desigualdade não é um acidente, mas sim um resultado de políticas que favorecem a concentração de renda e o distanciamento entre classes.
Resta-nos a escolha: aceitar ou transformar. Resistir ou acomodar. Entre a demagogia e a utopia, entre a política que nos afunda e a política que nos eleva, o horizonte observa e espera nossa decisão.
Luiz Carlos de Proença – Autor do livro: O sol nas margens da noite