Publicado desde 1969
Fundado por José Carlos Tallarico

No jardim das utopias

O momento anoitece e os instantes amanhecem. Da janela da imaginação observo as flores em distantes jardins e logo embeveço em sua essência. Próximo, logo ali, abrem-se caminhos que levam para lugares inimagináveis. Idealizo os momentos e vivencio os instantes na perenidade do tempo que brinca comigo antes do anoitecer.

A utopia como fonte de inspiração para uma sociedade mais justa. Imagino e idealizo uma sociedade ideal, um lugar de plena justiça e fraternidade. Essa sociedade foi idealizada por Thomas More no século XVI em sua obra chamada Utopia. Mas antes, vamos ver o que significa utopia. Segundo a Wikipédia a palavra utopia se origina do grego “ou+topos” que pode ser traduzido como “lugar que não existe”.

Desde então, a utopia tem sido um conceito central em diversas obras literárias e filosóficas, sempre refletindo sobre a possibilidade de se construir um mundo perfeito. Mesmo não existindo, a utopia está sempre nas letras de música, na poesia, na literatura e em obras filosóficas.

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O jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano diz que é a utopia que nos faz caminhar; ele diz assim: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.“

A utopia de quem ousou o mudar o mundo em nome de um ideal, de um sonho. O ativista de direitos civis Martin Luther King Jr, em celebre discurso em favor dos direitos da população negra norte-americana. Em seu discurso destaca-se essa frase: “I Have a Dream” – Eu tenho um sonho. O sonho de uma sociedade mais justa. Uma sociedade onde as pessoas sejam respeitadas pelo o que elas são”.

Na nossa atual Constituição em seu art. 5º que fala da igualdade de todas as pessoas perante a lei. Que todas as pessoas tenham seus direitos respeitados. Que esses direitos que as leis nos concedem, sejam de fato respeitados. Embora a realidade esteja distante e os acontecimentos cotidianos colocam em descredito esse sonho, embeveço em utopia e vejo esse sonho ainda possível.

A utopia também aparece no Contrato Social, que fundamentaram as doutrinas jurídico-políticas do Estado Moderno. É o pensamento filosófico do francês, Jean-Jacques Rousseau, em seus ideais utópicos de uma melhor forma de organização social. Consagrar o povo como fonte básica de toda autoridade política.

Esses três momentos da nossa história como humanidade, retrata a força enigmática da utopia. Há outros momentos que também teve a sua importância na história da humanidade. O sonho de uma sociedade mais igualitária, um mundo com bases sólidas, e que essa solidez seja nutrida pela partilha e solidariedade.

As forças humanistas que alimentam sonhos e nutre a utopia, contrariando a lógica mercadológica que vendem esperança e negociam sonhos. Essa tal de utopia, logo ao amanhecer me convidando para caminhar. Não importando com os obstáculos, só caminhe, somente o caminhar faz chegar.

Nas utopias, a igualdade é uma característica fundamental. Todas as pessoas têm acesso igualitário a recursos, oportunidades e direitos, eliminando as hierarquias sociais e econômicas que normalmente dividem as sociedades. Este ideal de igualdade não só promove a justiça, mas também assegura que todos os cidadãos possam viver vidas plenas e satisfatórias, livres das opressões e discriminações que marcam o mundo real. Além da igualdade, a justiça é um pilar crucial nas sociedades utópicas.

Leis justas e um sistema judiciário imparcial garantem que todos os cidadãos sejam tratados com equidade. Não há espaço para corrupção ou abuso de poder, e a transparência governa as interações sociais e políticas. Esse compromisso com a justiça não só cria um ambiente de confiança e respeito mútuo, mas também promove a paz e a estabilidade social.

No livro Utopia, Thomas More descreveu uma sociedade em que predominavam a tolerância e a justiça social. Na nossa sociedade o que predomina é a meritocracia. Em um país como nosso com grandes desigualdades, a meritocracia joga a favor dos mais favorecido. Essa é lógica do sistema que somos submetidos quer queiramos ou não.

A utopia está lá no horizonte como disse Eduardo Galeano, mas como fazemos para chegar até ela? Quando mais caminhemos em sua direção, mais temos a sensação que não podemos parar. Somos feitos de sonhos, e não importa o tempo e nem a distância e muito menos os obstáculos. Basta nos vislumbrar a beleza de tudo que nos envolve e saborear o sabor da vida.

Finalizo esse texto citando alguns versos da música Coração civil de Milton Nascimento e Fernando Brant: “Quero a utopia, quero tudo e mais. Quero a felicidade nos olhos de um pai. Quero a alegria muita gente feliz. Quero que a justiça reine em meu país. Quero a liberdade, quero o vinho e o pão. Quero ser amizade, quero amor, prazer. Quero nossa cidade sempre ensolarada os meninos e o povo no poder, eu quero ver.”

Luiz Carlos de Proença – Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito-SP – Autor do livro – O abraço do tempo –

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