Publicado desde 1969
Fundado por José Carlos Tallarico

Memórias da Bicicletaria do Tio Nirdo

Desde a infância, a política sempre me interessou, e meu ponto de partida era a Bicicletaria do meu tio Nirdo, o “Nirdo da Bicicletaria” na Bela Vista. Todos os dias, no final da tarde, o lugar se transformava em um palco de debates. Meus tios Nirdo e Narciso, ferrenhos PMDBistas (hoje MDB), discutiam com meu avô, meu pai e outros tios, que eram do então PDS (hoje PROGRESSISTAS). Mesmo com os ânimos acalorados, havia muito respeito. Nunca os vi se agredindo física ou verbalmente, mas costumavam trocar apelidos dos mais variados e engraçados.

Nessa época, com apenas 10 anos, testemunhei a histórica eleição de 1982, em que Dr. Hélio de Sousa venceu Cornélio Batista da Silveira, tido como já eleito por ter o apoio do então prefeito, o saudoso Abílio Turco. Naquele pleito, o voto era vinculado, o que fez com que Pedro Xavier perdesse por poucos votos, já que sua principal base eleitoral eram eleitores do Hélio. Eu torci para o Cornélio, seguindo meu pai que trabalhou na sua campanha. O Dr. Hélio se elegeu para seu mandato de seis anos, e, na eleição seguinte, na redemocratização, novamente seguindo o PDS, apoiamos o Paulo Maluf. As discussões na bicicletaria, claro, voltaram a ser acirradas entre o Malufismo e o Tancredismo. Em 1988, elegemos o JR Tallarico. Nesse pleito, apoiamos o candidato a vereador Abdon da Serraria, mas, segundo relatos, ele perdeu votos por causa da similaridade de seu nome com o do saudoso ex-vereador Abner Batista, que foi vereador por, salvo engano, sete legislaturas. Naquela época, o voto era em cédula de papel, e os mesários tinham a decisão de interpretar e direcionar o voto de cada eleitor. E o meu primeiro voto para presidente foi em Fernando Collor, um voto do qual mais me arrependo. Mas em 1990, mesmo sem ter sido eleito, eu acertei ao ter apoiado e votado no meu amigo Valmor Bolan.

A Primeira Candidatura, com 20 anos, em 1992, me candidatei a vereador pela primeira vez. Naquela eleição, o atual prefeito Júlio Fernando foi candidato pela primeira vez, sendo o mais votado pelo então PRN, com Jaime Tozzo para prefeito. Porém, o Júlio Fernando apoiou o Dr. Hélio, que se elegeu para o segundo mandato, e nossa coligação elegeu sete vereadores. Eu não fui eleito, ficando a aproximadamente 90 votos de conseguir. Meu maior erro foi não ter desistido em apoio ao meu tio David, que também se candidatou, o que dividiu nosso reduto eleitoral. Como uma pessoa com deficiência congênita (baixa estatura) desde o nascimento, essa jornada teve um significado ainda maior. Sem conhecer os desafios e sem dominar os termos de inclusão e acessibilidade, eu levantei essa bandeira pela primeira vez, uma causa que carrego comigo até hoje. A sequência das minhas outras candidaturas, com seus novos desafios e aprendizados, ficará para um próximo capítulo.

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Lições de Vida, Caráter e Ponderação – A motivação para meu ingresso na política foi inspirada por duas pessoas: meu saudoso tio David da Serraria e meu amigo, o saudoso ex-vereador Jaime Tozzo. Aprendi que, independente das ideologias, todos têm pontos positivos e negativos. O que faz a diferença são os políticos eleitos. Um partido pode ter a melhor plataforma, mas se for governado por alguém sem caráter ou escrúpulos, ele irá se cercar de pessoas iguais a ele.

Com tudo isso, me tornei um progressista moderado. Acredito no avanço, mas com cautela, entendendo que as mudanças que eu fizer podem incomodar meu vizinho, assim como as atitudes dele podem me afetar. Por isso, tudo deve ser feito dentro dos limites do respeito, da ética e da legalidade. A política de hoje, com seu extremismo e fanatismo, contrasta negativamente com o respeito que existia na minha infância. Se naquela época já havia pontos negativos, hoje eles estão muito piores.

(Por @LucianoBaixinho)

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