Como materializar um sentimento? Como seria a sua face? Talvez seja difícil até de imaginar. Talvez apenas a poesia consiga revelá-la. Talvez a face do amor seja o próprio desenho do amor — e tudo bem se não for perfeita. Os versos sabem dizer o indizível. Os olhos, ver o invisível. Assim como a lua, mesmo nas noites mais escuras, não se intimida com a escuridão.
Ouça o silêncio. Tente entendê-lo. Não sei dizer palavras bonitas, nem declamar versos decorados. Talvez nem seja necessário seguir esses rituais. Basta escrever o que o coração diz e a alma entende. É por esse caminho simples e despretensioso que o amor costuma transitar. Apenas escreva — as flores entenderão. O orvalho é a lágrima das manhãs.
Não sei como começar esta homenagem. São tantos pensamentos e sentimentos que vêm e vão — se materializam e, ao mesmo tempo, se esvaem. Tenho a impressão de que meus sentimentos são pequenos demais diante da grandeza que lhe habita. Meus textos, minhas poesias, frases e versos parecem insuficientes.
Então, semeei um jardim com os versos que me alimentam. Com as noites, velejei em um mar de estrelas, e remei sob o clarão da lua. A terra germinou a semente, e nasceram muitos sóis — para iluminar os dias e aquecer o coração do mundo. As flores enfeitaram os quintais, embevecendo o amor, amamentando a vida em um cenário imemorável e celestial.
Balbucio o silêncio em palavras sublimes. Entre tantas que aprendi — consoantes e vogais — há uma que cresceu, floriu e desabrochou: Mãe. Palavra que acolhe, aconchega e abraça todos os sinônimos que alimentam o amor, um amor maternal.
Quero o verso mais belo, a poesia mais intensa. Quero a ternura mais pura da humanidade. Um mundo que se humaniza no ventre da mulher, no embrião da vida, na alma do cuidado. Céu, estrelas e um pouco de tudo — como noites translúcidas que brilham com o mais puro amor.
Um verso, um olhar. Uma poesia — e a vida pulsa no sagrado ventre emoldurado em amor. E, mesmo assim, não consigo… Sinceramente, não sei se algum dia conseguirei compor a beleza que retrate a face de uma mãe. As folhas e flores bebem da sua essência, que nutre e solidifica a vida em abundância.
Mãe: poesia em movimento. Verso que silencia no silêncio melódico de tudo que é belo. E nessa beleza, tudo se transmuta: cores, imagens, corações profundamente envolvidos em ternura.
Mas também há flores sem jardim, lágrimas em dor. O mundo machuca, fere e sangra o coração de mãe. Os caminhos pedregosos dificultam a jornada, mas não matam a esperança nem a força dos seus passos. Há mães que choram a ausência, o esquecimento. Porque amar, às vezes, também dói.
A poesia nasce todos os dias. Ri, chora, se emociona, entristece. Vive e anoitece. Mãe e verso. Poesia que amamenta, alimenta, sustenta. Mãe do mundo e o mundo da mãe. Semente que germina, terra que abraça, coração que compartilha.
Um dia, sentado na cadeira da saudade, senti o tocar do vento, a doçura do instante, e vi ao longe o horizonte se descortinar entre os olhos já cansados. E o verso daquela poesia que não escrevi… A flor esquecida, machucada em jardins distantes. Então, declinei meu olhar, e numa réstia de luz que atravessava o imenso silêncio, mergulhei em mim por inteiro.
Toda flor, todo jardim, toda beleza: exuberância de um ser humanamente sagrado. A poesia ainda quer abraçar com o mesmo amor de antes. Mas ainda não encontro os versos para terminar este singelo texto, mergulhado e embebido em poesia.
Porque a mão do amor é a mão de mãe — que afaga mesmo à distância. O sorriso do amor é sorriso de mãe — mesmo que triste, ainda assim é sorriso de mãe. O olhar do amor é o olhar de mãe — ainda que nos repreenda, nos olha com o coração. A voz do amor é a voz de mãe — e é preciso ouvir com a alma.
Mãe: a face humana que se transfigura na face divina. Transpassa e transcende o ser em sua totalidade. Todos os instantes, todos os tempos. A flor, o coração, e todos os sentimentos mais sublimes. E os versos de uma poesia… que ainda não consegui terminar.
Luiz Carlos de Proença – Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Capão Bonito SP – Autor do livro: O sol nas margens da noite