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Fundado por José Carlos Tallarico

Entre a utopia e a realidade: A política em questão

Definir política não é tarefa fácil. A palavra “política” vem do grego “politikós”, que designava os cidadãos da “polis”, a cidade-estado grega. A “polis” referia-se não só à cidade física, mas também à sociedade organizada. Dessa forma, a origem da política está ligada à participação comunitária e à vida coletiva, diferente da visão de política como algo restrito a políticos profissionais e distante do cotidiano.

Em outras palavras, política é a forma de organizar a sociedade para uma convivência harmoniosa. Se definir política é difícil, viver a política conforme essa definição é ainda mais desafiadora.

O termo política vem do grego, o que nos remete a dois filósofos que pensaram a política como ideal: Platão e Aristóteles. Platão e o idealismo político, a busca do bem comum. E para Aristóteles, o homem é, por natureza, um ser político. O ser humano necessita de coisas e de outros seres humanos. Sendo carente e imperfeito, ele busca viver em comunidade para alcançar a plenitude.

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O pensamento político de Platão e Aristóteles aponta para o ideal político, a política como deveria ser. A política como ação humana é essencial para a boa convivência em sociedade.

Até que, no século XVI, aparece Nicolau Maquiavel, que pensava a política não como um idealista, mas como um realista. Contrapondo o idealismo platônico e aristotélico, ele considerava a política não como deveria ser, mas como ela é de fato. Sai de cena o idealismo político e entra o realismo político.

Maquiavel aguça minha inquietude, levando-me a acreditar que a política é um jogo marcado pela sordidez, onde a regra favorece quem detém o poder. Ética? Moral? Atualmente, essas palavras não parecem fazer parte da política. Será que sempre foi assim?

Ele apenas mostra o quão vil e mesquinho pode ser o ser humano, especialmente quando revestido pelo poder. Maquiavel continua descrevendo como o político deve fazer sua política para se manter no poder. São ensinamentos muitas vezes escondidos em discursos cheios de efeitos e ludibriantes, que mostram na prática a mesquinhez e a hipocrisia cotidiana, que permeiam o mundo político.

Diante desses três pensadores, podemos nos perguntar, como é a política atual? Hoje, ela é mais platônica ou maquiavélica? Acredito que ambos estão tão presentes no cenário político atual. O “toma lá, dá cá” continua presente na política cotidiana. Nossa política é caracterizada pelo fisiologismo, uma relação de favorecimento de grupos ou da base aliada em troca de favores, prejudicando o bem comum. O cenário político se assemelha a um balcão de negócio, onde se negocia até o que não tem preço.

Essa prática está enraizada, transformando a política em negócio. Grupos privilegiados se beneficiam em troca de apoio e favores. Assim, a política perde sua essência e deixa de ser um instrumento de promoção do bem comum, tornando-se uma prática de descaso com o bem público e a população mais necessitada.

Hoje, vemos políticos legislando em causa própria. A política é uma ferramenta para a promoção do bem comum, mas, usada de forma errada, pode causar sérios danos à sociedade.

Quando pensamos em política, logo vem à mente os políticos, as legendas partidárias e os cargos ocupados no executivo e legislativo, em todas as esferas de governo. No entanto, podemos fazer política sem sermos filiados a partidos. Como cidadãos, reivindicamos direitos por meio de políticas públicas que beneficiem toda a sociedade. Essa também é uma forma de fazer política. Caso queiramos concorrer a um cargo político, aí sim, precisamos de filiação partidária.

A política nos manipula ou o poder é manipulado pela política? Ou talvez os políticos manipulem a política como uma ferramenta que obedece a ordens preestabelecidas? Somos manipulados ou ingênuos? A política e o poder. O poder do político.

Enquanto o fanatismo toma conta de grupos extremados, de polarização ideológica, jogando um contra o outro. Esse cenário raivoso e de ódio que se vê no país nos dias hoje. Tudo isso é reflexo dessa polarização política, que dificulta o debate e não traz nenhum benefício para a sociedade.

No Brasil, exercer um cargo político parece sinônimo de privilégios. Privilégios que custam caro. Lembrando que este ano tem eleições. Vamos eleger o chefe do executivo municipal, o prefeito e os vereadores que formam o legislativo municipal.

Apesar do nosso descrédito com os nossos políticos, temos que acreditar, não em nossos políticos, mas na força e na importância do nosso voto. Um dos nossos compromissos como cidadãos é o voto. Lembrando que o voto é apenas uma das formas de participação política.

Diante do descrédito com os políticos, é essencial acreditar na força do nosso voto. Além disso, nossa cidadania deve ser exercida de várias formas, como participação em espaços sociais e influenciar decisões que atendam os anseios da sociedade. Assim, temos o direito e o dever de cobrar dos eleitos, pois “os ausentes nunca têm razão”. Nosso envolvimento é fundamental para uma política mais justa e eficiente.

Luiz Carlos de Proença – Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Capão Bonito SP – Autor do livro – O abraço do tempo

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