A pandemia da Covid 19 acabou há alguns anos, mas os impactos indiretos da Covid-19 continuam a se manifestar na população. Um que vem chamando a atenção de cirurgiões de quadril é o aumento de casos de osteonecrose da cabeça femoral.
Esta condição, caracterizada pela morte do tecido ósseo em razão da redução ou interrupção do fluxo sanguíneo local, acomete com maior frequência adultos entre 20 e 50 anos e costuma se manifestar com dor na região do quadril, rigidez e dificuldade para caminhar ou realizar atividades cotidianas.
Segundo o Dr. Fábio Elói, cirurgião de quadril e oncologista ortopedista, são sintomas frequentemente confundidos com problemas musculares ou com sinais naturais do envelhecimento. Por isso, a doença vem sendo diagnosticada tardiamente.
Os corticoides e a pandemia
“Na pandemia da Covid 19, o uso de corticoides foi frequentemente utilizado no tratamento de casos graves, por sua potente ação anti-inflamatória. No entanto, o uso prolongado ou em altas pode ser um dos fatores de risco para o desenvolvimento da osteonecrose”, explica o Dr. Fábio.
Isso porque os corticoides alteram o metabolismo lipídico e podem favorecer a formação de micro êmbolos de gordura, que bloqueiam a microcirculação sanguínea dentro do osso. Além disso, prejudicam a função das células ósseas e reduzem a capacidade de regeneração do tecido.
Risco trombótico
Além da medicação, há suspeita de que a própria infecção pelo coronavírus contribua para este crescimento de casos de osteonecrose, revela o especialista.
“Estudos indicam que o vírus provoca um estado pró-trombótico, ou seja, uma tendência à formação de coágulos, que pode levar à obstrução dos pequenos vasos, responsáveis pela irrigação da cabeça femoral. Somado ao uso de corticoides e períodos prolongados de imobilidade durante a doença, o risco aumenta consideravelmente.”
Detecção precoce
A osteonecrose pode evoluir de forma silenciosa por meses ou até anos, o que dificulta o diagnóstico precoce. Em muitos casos, o desconforto inicial é leve e intermitente, levando o paciente a adiar a busca por ajuda médica. Quando não identificada e tratada nas fases iniciais, a doença pode progredir até o colapso da articulação, causando dor intensa e limitação funcional importante.
“Os principais sinais de alerta incluem dor profunda na virilha, no quadril ou na parte interna da coxa, com piora ao caminhar, subir escadas ou permanecer em pé por longos períodos”, explica o Dr. Fábio.
Para a confirmação do diagnóstico, o médico poderá solicitar exames de imagem complementares, como ressonância magnética, radiografias e tomografias, que auxiliarão a avaliar o grau de comprometimento da articulação.
Tratamentos e novas abordagens
O tratamento dependerá do estágio da doença. Nos casos iniciais, medicamentos serão utilizados para melhorar a circulação sanguínea local, fisioterapia e descompressão óssea, um procedimento cirúrgico minimamente invasivo, que alivia a pressão dentro do osso.
“Nos casos avançados, quando há colapso da cabeça do fêmur e destruição da articulação, a artroplastia total do quadril, que é a colocação de uma prótese, pode ser necessária para restabelecer a mobilidade e aliviar a dor.”
Atenção aos sinais e prevenção
Estima-se que cerca de 20 mil novos casos de osteonecrose sejam diagnosticados anualmente no Brasil, sendo o quadril a região mais afetada. Em até 80% dos pacientes, ambos os lados são comprometidos, o que agrava o impacto sobre a qualidade de vida.
A osteonecrose pode atingir pessoas jovens e ativas, reduzindo drasticamente sua capacidade de locomoção e produtividade. Por isso, é essencial ficar atento a dores persistentes no quadril e evitar a automedicação. O diagnóstico precoce aumenta muito as chances de tratamento menos invasivo.
O Dr. Fábio Elói é cirurgião de quadril e oncologista ortopedista, doutor em Oncologia pela Fundação Antonio Prudente – AC Camargo Cancer Center, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – SBOT, da Associação Brasileira de Oncologia Ortopédica e da Sociedade Brasileira de Quadril.