Mensagem ao Mundo e aos Seres Humanos de Boa Vontade. A verdade e a mentira se confundem nas aventuras do mundo das ideias, onde a liberdade se vê prisioneira no castelo das ilusões. O perigo ronda, mas, no voo rasante da vontade de ser, nasce a semente de bondade. Os olhares das flores nos acompanham, e as lágrimas que o sol evapora logo se transformam em rios de humanidade. Nas margens das boas aventuranças, a esperança bebe da essência das águas para nutrir a existência e semear até mesmo os desertos.
O mundo se escreve nas páginas dos livros, entre o sonho da noite e a chuva antes da primavera. Há os que prometem atalhos, desfazendo velhos caminhos com miragens de destinos mais rápidos, como se a pressa pudesse suprimir o sentido da jornada. Mas todo caminho tem início, meio e fim — como lembrava Fernando Pessoa, “tudo vale a pena se a alma não é pequena” — e é nesse entremeio que a vida se revela, entre o nada e a urgência de uma mensagem a um mundo ferido pelas guerras.
Por trilhas nunca antes caminhadas, sentimos o gosto amargo das paragens infinitas e a agonia de versos ausentes, de poesias escondidas em painéis imaginários de um tempo turbulento. Mesmo assim, entre tempestades adormecidas e pesadelos que se escondem no acaso, lampejos ainda sustentam a centelha dos sonhos — como se Camus sussurrasse que, mesmo em meio ao absurdo, é preciso imaginar Sísifo feliz.
As sombras das faces esfaceladas pelo golpe da impunidade sorriem diante do mundo. Segredos de noites escuras se acumulam, mas um portal de esperança permanece entreaberto para acolher fugitivos do jardim da maldade. Feridas clamam por cicatrização, embora a dor insista em permanecer. Armadilhas da mente ecoam nos sentimentos, e no coração pulsante a vida se envolve em paisagens artificiais. O pêndulo da temperança oscila entre o saber e o desatino, lembrando o conselho de Eclesiastes: “há tempo para rasgar e tempo para costurar, tempo para calar e tempo para falar. “
As veias abertas da humanidade e seu coração latente gritam em meio às calamidades — como já denunciava Galeano ao falar das feridas da América Latina. O poder e a glória se confundem com o pudor da ação sanguinária nas fronteiras da banalidade. Quem alimenta a barbárie e semeia o caos? Não há paz na miséria. Não há armas que possam plantar a paz. Os injustiçados pedem justiça — e sua voz ecoa como a dos profetas antigos, que clamavam contra reis que trocavam o pão pela espada e a lei pela impunidade.
Ler o mundo pelas páginas da realidade é atravessar dias sombrios. O futuro é fumaça densa que obscurece o presente, estilhaçado pela estupidez humana. O ser humano nutre ódio, alimenta a destruição, ergue impérios de força e fronteiras em nome da hegemonia.
E resta a pergunta: o que querem do mundo aqueles que se dizem donos do tempo e senhores da terra? As guerras, os conflitos, a busca da supremacia, a aniquilação.
E, no entanto, nas margens do caminho, flores ainda enfeitam a terra. Aliviam o cansaço dos passos lentos e lembram que a esperança persiste, como no canto de Gonzaguinha: “apesar de você, amanhã há de ser outro dia.” E é nessa insistência do amanhã, nessa teimosia da vida em flor, que ainda repousa a última força do ser humano, mesmo quando o coração do mundo sangra.
Luiz Carlos de Proença – Autor dos livros: O sol nas margens da noite e A pele do vento