O que você diria ao mundo quando tudo parece errado? Quando a verdade já não faz diferença? E você, o que diria para aqueles que ainda mendigam um pedaço de pão? Para os que clamam, enquanto alguns dizem que tudo vai bem, que o mundo é assim mesmo? E a verdade parece se perder no absurdo.
O que você diria ao mundo sobre paz, quando a guerra ainda mata inocentes? O que dizer quando a cor da pele revela a intolerância, a estúpida divisão de classe? E a verdade se esconde, diluída entre o medo e a cegueira. Dizem que tudo vai bem. Mas não. Não está tudo bem. Não faz sentido. Não é justo.
E a voz se cala por um instante, e conversa com o silêncio: ainda há sonhos. Mas o que dizer ao mundo quando o deserto invade os jardins? Quando o sonho abraça a esperança, e flores teimam em brotar de raízes sedentas de um afeto que ainda não chegou? Elas sobrevivem no deserto, esperando uma lágrima para a secura dos olhares perdidos entre as frestas do infinito.
O que dizer ao mundo? Diga que a essência não se esvai assim com o vento, que o coração busca o que ainda não se revelou. No jardim das incógnitas, flores nascem da sede e bebem no rio das possibilidades. Meu coração é um campo onde crescem mais perguntas que respostas, e é assim que os dias se alimentam das incertezas, enchem os momentos de pequenas certezas.
Além dos olhares e tão próximo, mas ainda distante, uma pergunta paira no ar: o que quer a vida de mim? O que eu quero da vida é a vida que eu quero? A noite já passou, e o dia semeou a semente do amanhã no jardim das incógnitas. E a pedra de Drummond, o que fazia no meio do caminho? Será que, no meio do caminho, poderiam estar outras coisas além da pedra? Poderia ser um jardim, ou a profundidade da existência. No meio do caminho ou em qualquer instante. Apesar das pedras, precisamos caminhar.
Seguir em frente não significa seguir qualquer caminho, nem o caminho da maioria. Quem garante que a maioria segue o caminho certo? E qual seria o caminho certo? Preciso mesmo de certeza? Talvez a dúvida seja nossa verdadeira companheira.
Ontem fiz um verso, semeei sentimentos para que nascesse poesia. No verso, havia outros sentimentos, desconhecidos, mas que já alimentavam um segredo em mim. E perguntei ao sentimento: o que queres de mim? Qual é o mais nobre dos sentimentos?
O amor, pensei. O amor é o mais nobre dos sentimentos. E amanheceram muitos outros dias, novas sementes foram lançadas. O amor floresceu com suas razões, seguindo Pascal: “O amor tem razões que a própria razão desconhece.”. E assim, entrelaçados, incertezas e certezas florescem no jardim das incógnitas.
Serei eu um poeta, um visionário, ou apenas alguém que escreve o que sente? No meio das dúvidas e do absurdo, o sentimento humano transgride as regras e preenche o vazio. Alimenta-se a si mesmo, solidário e completo. É um sentimento que sente a dor do mundo e nutre o próprio mundo.
As paisagens e os labirintos dos sentimentos nos humanizam, fortalecem e, paradoxalmente, nos fragilizam diante da força bruta. Talvez seja uma poesia doendo em seus versos, que espia pelas frestas da imaginação as lágrimas do horizonte e sacia a sede do infinito.
As margens de nós e as dimensões do amanhã se desenham na medida do hoje. Amanhã são outros versos, em diferentes poesias.
Nos versos que iluminam a noite sob o brilho das estrelas, uma estrada desponta rumo ao sol. E o canto de um pássaro se perde ao vento da liberdade. Cuida do teu sentimento, zela pela tua liberdade. Porque, quando o silêncio vier, as palavras que você ainda não disse poderão iluminar o caminho. E talvez seja nelas que a noite encontre seu amanhecer, e escreve na linha do horizonte o que ainda não se revela.
Luiz Carlos de Proença – Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Capão Bonito SP – Autor do livro – O sol nas margens da noite