No Sermão da montanha Jesus revela a importância da mansidão (dentre outras virtudes) e apresenta uma grande promessa para aqueles que a possuem. Mas o que significa ser manso? É um dom que recebemos de Deus; é resultado de um empenho pessoal ou de predestinação?
Ao procurar compreender a dimensão desta virtude me deparei com um entendimento que superou tudo o quanto acreditava. Vou iniciar com o que ela não é: não é um dom recebido de Deus (o que muito me surpreendeu!); não é um modo de agir tímido, acomodado, daquele que silencia diante das agressões e dos conflitos cotidianos. Nem tão pouco dos que colocam seus princípios de lado diante das pressões cotidianas ou que são cooptados.
Mansidão é uma virtude conquistada por um empenho no bem, em escolhas que fazemos buscando submeter a vontade e a inteligência, controlando a impulsividade, agindo com prudência – com sabedoria. Contudo, é também um presente: uma Graça que recebemos de Deus, fruto do Espírito Santo. Reconhecendo a importância de uma boa educação para a formação das virtudes, contudo, não é garantia de que não agiremos na agressividade, impaciência, no rancor ou que nossas atitudes não espelharão a maldade. O que determinará a mudança de nossas ações será o processo de conversão (metanóia).
A conversão promoverá a mudança de atitude em que, recebendo o Espírito Santo, haverá bondade, autodomínio, humildade e independentemente dos fatos ou da situação vivida, a pessoa permanecerá equilibrada, expressando sabedoria, calma, gentileza. Porque suas ações refletem o olhar, o amor de Cristo (amor que nos constrange a sermos melhores).
Para saber se temos a virtude da mansidão é necessário o autoconhecimento, o autoexame e desejar, de todo o coração, a cura espiritual. Termos consciência da forma como agimos ou reagimos diante dos problemas, confrontos, principalmente nos momentos em que somos contrariados ou desrespeitados. Por isso é essencial pedirmos pela Luz do Espírito Santo, para que possamos reconhecer nossas falhas, erros, pecados, pois, dificilmente temos a consciência de quem realmente somos!
Faça o exercício de rememorar algum momento de sua vida em que foi humilhado por alguém, seja familiar ou não, em uma situação em que foi injustiçado, ofendido ou mesmo agredido. Como você reagiu; como costuma agir nestes momentos?
Diante de pessoas que contrariam rispidamente seus pensamentos, crenças, como você reage? Avalie (honestamente) como tem sido seu comportamento. Quais situações não tem lhe permitido ser “manso”? Consegue agir de forma respeitosa, assertiva, gentil ou age com arrogância, prepotência, devolvendo a humilhação de forma áspera, agressiva ou, ainda pior: revidando, agredindo, perseguindo de forma sagaz, inflamada (com ódio, rancor e ira) usando seu conhecimento, posição social ou cargo de poder?
Se prestarmos atenção em nossas ações e reações compreenderemos quem realmente somos. Veja que a ira, o rancor, o ódio (a maldade) são contrários à mansidão. São desvios, obstáculos que retiram a caridade, afastam os frutos do Espírito Santo, que são: “caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, mansidão e temperança”.
Mansidão é uma coragem sem violência, uma força sem dureza de coração: é uma plenitude que preenche o coração de tal forma que você expressa caridade, não por medo do inferno, de karmas ou outras formas de coerção, mas somente pelo Amor de Cristo que habita em você. É a paz que excede todo o entendimento, que Jesus concedeu e prometeu aos apóstolos e aos que agem como seus filhos.
É uma Graça, um presente concedido àquele que busca intimidade com o Senhor, que anseia pela cura espiritual, pela transformação e procura agir com humildade e obediência a Deus. O “manso” tem as suas vontades, inclinações, vulnerabilidades, contudo, age com bondade porque permanece no Senhor.
É o próprio Deus que o sustenta!
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com