Vivemos tempos em que a política, outrora concebida como instrumento de justiça, tem sido reduzida a um jogo estratégico. A frase de Aristóteles ecoa através dos séculos, lembrando-nos de uma política que deveria priorizar o bem comum: “A política não deveria ser a arte de dominar, mas sim a arte de fazer justiça”.
Quando a política é tratada como um jogo, perde-se a compreensão de sua verdadeira natureza. Reduzi-la a uma disputa de poder ou competição de estratégias esvazia sua profundidade e a importância que deveria ter na vida de cada cidadão. Em sua essência, a política não deveria ser um palco de performances vazias, mas um espaço de diálogo, construção do bem comum e mediação dos interesses coletivos.
Desde Aristóteles, sabemos que o ser humano é social por natureza, necessitando da convivência com o outro para viver em comunidade. A política, portanto, é o instrumento que organiza essa convivência, garantindo que as necessidades coletivas sejam atendidas. No entanto, quando corrompida por interesses particulares, ela perde seu caráter de serviço público e se torna veículo de privilégios.
No Brasil, a distinção entre “profissionais da política” e “profissionais na política” evidencia um problema central: muitos políticos transformam a política em uma forma de promover o bem pessoal ou de grupos específicos, em detrimento do bem comum. Essa diferença pode ser vista, por exemplo, em políticos que, em vez de lutar por reformas estruturais, dedicam seus mandatos a interesses de corporações ou grupos econômicos que os financiaram. Privilegiar grupos em troca de apoio político enfraquece a essência da política, que deveria ser voltada ao interesse público, não a interesses privados. Como resultado, vemos políticos legislando em causa própria e negligenciando as necessidades da população.
A realidade eleitoral reflete esse desvio de propósito. Em muitas campanhas, o debate é marcado por críticas vazias, desprovidas de propostas concretas. Embora a crítica seja uma ferramenta essencial para uma democracia saudável, ela perde sua força quando não busca o aprimoramento de ideias e ações. O que vemos, frequentemente, é uma troca de acusações que esvazia o processo político e nos distancia das soluções reais para os problemas da sociedade.
O marketing eleitoral se tornou uma ferramenta para maquiar promessas, moldar narrativas e desviar a atenção dos eleitores das questões essenciais, como educação e saúde. Assim, os debates se tornam espetáculos, onde o foco não é mais o conteúdo, mas a imagem. Essa inversão de prioridades gera desconfiança entre os eleitores, especialmente quando campanhas financiadas com recursos públicos priorizam a construção de uma persona eleitoral em vez de propostas para educação, saúde e segurança. A política, que deveria ser o meio pelo qual construímos o futuro do país, acaba parecendo mais um espetáculo vazio, no qual os interesses da sociedade são relegados a segundo plano.
Os eleitores, por sua vez, tornam-se reféns desse processo, muitas vezes desiludidos e céticos em relação à possibilidade de uma mudança efetiva. Quando o debate político se reduz a uma batalha de narrativas vazias, o voto deixa de ser um instrumento de transformação e passa a ser um ato de desesperança, uma escolha entre o “menos pior” em vez de uma decisão pautada por uma visão clara de futuro. E assim, a sociedade se vê presa em um ciclo de repetição, onde os problemas se perpetuam, enquanto as promessas de soluções evaporam ao vento logo após o período eleitoral.
O caminho para reverter esse quadro passa, necessariamente, pela reconexão da política com suas raízes mais profundas: a construção do bem comum. Para isso, é essencial que os candidatos e partidos se comprometam com debates verdadeiramente propositivos, focados em soluções concretas e viáveis para os problemas da sociedade. É preciso resgatar o diálogo que não tenha medo de confrontar ideias, mas que o faça com o objetivo de melhorar o coletivo, e não de simplesmente desqualificar o adversário.
Embora o cenário pareça sombrio, há sinais de renovação. Movimentos de base, lideranças emergentes e cidadãos conscientes podem reacender a chama de uma política voltada para o bem comum. O grande desafio, portanto, é resgatar a essência da política como um serviço ao bem comum. Mais do que nunca, é preciso que a política deixe de ser vista como um jogo e volte a ser o espaço onde o futuro da sociedade é construído com seriedade e responsabilidade.
Luiz Carlos de Proença – Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito-SP – Autor do livro – O abraço do tempo –