Publicado desde 1969
Fundado por José Carlos Tallarico

A poética do agora

“A esperança é o pior dos males, pois prolonga o tormento do homem.“ Nietzsche escreveu isso, e a frase, carregada de peso, ressoa como um sussurro que atravessa o tempo. Mas quem somos diante da vastidão do universo? O que nos anima, afinal, quando as adversidades parecem intransponíveis?

Depois de uma noite longa e inquieta, despertou sem saber se o sol já tinha nascido. Havia tanto a ser dito, mas não havia ninguém para ouvir. O silêncio parecia sólido, preenchendo o espaço como uma presença. Era um silêncio que vinha do vento, impregnado de uma bondade serena, próxima, quase tangível.

“Olhe”, dizia algo dentro de si. Apenas olhe. E, ao olhar, o pensamento parecia ganhar forma, quase como uma pintura abstrata que se revelava no vazio. À distância, à tarde se vestia de espera pelo encontro com a noite. E quando a lua abraçasse as estrelas, seria como ouvir segredos antigos, histórias que o tempo guarda para quem sabe escutar.

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É inevitável questionar nossa condição frente aos acontecimentos que nos cercam. Será que, ao olhar com profundidade, chegaríamos às mesmas conclusões que tínhamos ontem? Preocupamo-nos com o que está além do nosso alcance, coisas que acontecem independentemente de nós. Mas o tempo, indiferente, segue seu curso, transformando previsões em incertezas.

A vida, em sua essência, é composta por sentimentos profundos e contraditórios. Há dias de dor, de caminhos tortuosos e de sonhos que não florescem. Há o desprezo que nos apequena e o preconceito que nos distancia da humanidade. E, nesses momentos, viver parece um fardo pesado demais para carregar.

Ainda assim, sementes de bondade são lançadas em solos férteis. E dessas sementes nasce a esperança — um impulso que nos faz imaginar novos caminhos. É a esperança que enxuga lágrimas e afaga rostos com sua leveza invisível, oferecendo à alma a chance de renascer em dias melhores.

Com um lápis na mão, é possível redesenhar o mundo. O azul do céu, o abraço do arco-íris, o sorriso das manhãs. No horizonte, o olhar que se perde é também o olhar que cria. A dor e o alívio coexistem, e no meio deles, a bondade insiste em plantar as raízes da paz.

Os dias, como versos, se desdobram em poesia. Entre sonhos e utopias, caminhantes percorrem os caminhos que a vida oferece. Há longas jornadas que levam ao cansaço, mas também noites intermináveis onde as histórias encontram a imortalidade.

Os pensamentos, muitas vezes, são como viajantes sem rumo. Eles invadem, vagam e se perdem, talvez buscando algo que nem eles próprios sabem definir. E nesse vagar, encontram fragmentos de sonhos, ecos de estrelas que brilham para além do que podemos alcançar.

A liberdade de sonhar é um voo contínuo. É como costurar uma rede com as linhas do horizonte e descansar nela, esperando que outras estações tragam novos sonhos. Há algo de sublime nos instantes que passam sob o olhar atento de quem percebe a vida em sua plenitude.

Mesmo que a chuva dure o dia inteiro, ela traz consigo a promessa de renovação. Cada gota rega o porvir, e a terra, silenciosamente, acolhe a semente que um dia há de germinar. Assim, o ciclo continua, e as possibilidades se multiplicam.

Os livros leem o mundo de forma silenciosa. As palavras, como pinceladas, desenham um universo de dores, pudores e flores que nunca existiram, mas que fazem parte de algo maior. A imaginação, nessa dança, transforma o impossível em poesia.

E quando o olhar se perde no nada, há um consolo: nada é para sempre. As dores, ainda que intensas, são passageiras. E as lágrimas, cada uma delas, têm um propósito, ainda que oculto. Assim é o fluxo da vida, do mar ao sol, do sonho à realidade.

O silêncio tem seu próprio tempo. Os períodos que compõem o dia se assemelham aos parágrafos de um texto ou aos versos de um poema. A manhã cede à tarde, que abraça a noite, e assim o ciclo segue. Os versos não envelhecem, e a poesia, em sua essência, é eterna.

Luiz Carlos de Proença – Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Capão Bonito SP – Autor do livro: O sol nas margens da noite

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