O crescimento econômico e o desenvolvimento tecnológico inserem o ser humano em uma sociedade avançada, promovendo progresso em diversos aspectos. No entanto, para que haja um desenvolvimento sustentável, os avanços econômicos e tecnológicos devem caminhar juntos com políticas eficazes de distribuição de riqueza. Como alerta Amartya Sen, em “Desenvolvimento como Liberdade”, o crescimento econômico por si só não garante o bem-estar social; é necessário que ele seja acompanhado de políticas que ampliem as capacidades humanas e sociais.
Política e economia seguem o mesmo caminho? Atualmente, vivemos em um mundo regido pelo livre mercado e pela globalização. A abertura dos mercados, a expansão do comércio internacional e a atuação de empresas multinacionais impulsionam o desenvolvimento nos grandes centros urbanos. No entanto, esse crescimento não ocorre de maneira uniforme. Segundo Thomas Piketty, em “O Capital no Século XXI”, a economia capitalista tende a concentrar riqueza, pois a taxa de retorno do capital frequentemente supera a taxa de crescimento da economia, ampliando a desigualdade social.
A partir dessa perspectiva, a pobreza pode ser vista tanto como um problema político quanto econômico. Se for uma questão política, significa que, por meio de políticas públicas eficazes, é possível combatê-la. Se for uma questão econômica, o crescimento econômico poderia, em teoria, ser suficiente para reduzir a pobreza. No entanto, como mostra o relatório do Banco Mundial (2023), o crescimento econômico não tem sido suficiente para eliminar as desigualdades estruturais, especialmente em países emergentes. Isso nos leva a um questionamento essencial: a distribuição de renda pode ocorrer apenas com o crescimento econômico?
Mais Estado ou menos Estado? A discussão sobre o papel do Estado na economia divide opiniões. Para Milton Friedman, em “Capitalismo e Liberdade”, a intervenção estatal deve ser mínima, pois o mercado é mais eficiente na alocação de recursos. Em contrapartida, John Maynard Keynes, em “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, argumenta que o Estado tem um papel essencial na regulação da economia, principalmente em momentos de crise, para garantir o pleno emprego e a estabilidade social.
O conceito de “Estado mínimo” defendido pelos liberais atende às necessidades sociais? Ou a distribuição de renda por meio de políticas públicas é essencial para reduzir a pobreza? Estudos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) mostram que países que investem em programas sociais eficazes têm maior mobilidade social e redução das desigualdades. No entanto, a forma como essas políticas são implementadas determina se elas serão uma solução estrutural ou apenas um paliativo.
A grande questão permanece: crescimento econômico é sinônimo de distribuição de renda? Daron Acemoglu e James Robinson, em “Por que as Nações Fracassam”, defendem que o crescimento sustentável ocorre em sociedades com instituições políticas e econômicas inclusivas. Sem isso, o desenvolvimento econômico pode beneficiar apenas pequenas elites, perpetuando ciclos de pobreza e desigualdade.
O jogo político e a sociedade. Infelizmente, a discussão sobre esses temas costuma ser superficial e ideologizada. Progressistas e conservadores, esquerda e direita, travam um embate que, no fim, penaliza aqueles que mais precisam. Quando a política se reduz a um jogo de interesses, todos perdem -ou melhor-, perde a população mais vulnerável. Como bem aponta Norberto Bobbio, em “Direita e Esquerda”, o debate político muitas vezes se limita a rótulos, desviando-se da busca por soluções concretas.
Política, economia e sociedade estão interligadas. A política deveria ser um meio de transformação para promover o bem comum. No entanto, tornou-se uma ferramenta para sustentar privilégios. Como denuncia Joseph Stiglitz, em “O Preço da Desigualdade”, muitas políticas públicas acabam servindo aos interesses de pequenos grupos econômicos, ao invés de promoverem um crescimento inclusivo.
A redução da pobreza é, acima de tudo, uma questão de vontade política. Mas, enquanto a política for conduzida como um jogo de cartas marcadas, em que as regras favorecem quem já detém o poder, pouco mudará. Como observa Boaventura de Sousa Santos, em “A Gramática do Tempo”, a democracia representativa enfrenta desafios quando instituições políticas são capturadas por interesses privados.
Apesar dessa visão crítica, ainda acredito que a política é o meio mais eficiente de transformação social. Quando praticada com ética e compromisso moral, pode gerar avanços significativos. Políticos verdadeiramente comprometidos com a coisa pública são agentes da boa política, e suas ações têm impacto positivo na sociedade. O desafio está em reconstruir a política para que ela volte a ser um instrumento de justiça social e progresso humano.
Luiz Carlos de Proença – Autor do livro: O sol nas margens da noite