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Fundado por José Carlos Tallarico

A “cegueira” é inevitável?

“Disse-lhes Simão Pedro: vou pescar. Responderam-lhe eles: também nós vamos contigo. Naquela noite, porém, nada apanharam. Chegada a manhã, Jesus estava na praia. Todavia, os discípulos não o reconheceram”. João 21, 3-4

Por muitos anos tenho estudado os Evangelhos, porém, ao reler o texto sagrado de João tive uma compreensão que sequer havia cogitado (senti como se fossem retirados de meus olhos pesadas escamas). O texto revela que os discípulos estavam trancados, escondidos, por medo de serem mortos. Porém, Jesus apareceu aos apóstolos após sua morte, esteve com eles, participou das ceias. Consegue vislumbrar essa cena em seu coração?

Após a morte do Messias, mesmo tendo eles estado com o Senhor, voltaram a pescar, ou seja, voltaram à normalidade de suas antigas vidas; Pedro voltou a ser Simão (não havia a mesma fé e esperança de quando estavam diante do Senhor). E quando saíram a pescar não conseguiram nenhum peixe a noite inteira. Lendo o texto vemos que Jesus começou a conversar com eles, porém, não O reconheceram. A cegueira encobriu seus corações. Ora, mas eles haviam estado com o Senhor, cearam com Ele, por que não mais enxergavam o Messias?

O primeiro a reconhecer Jesus foi João, que exclamou: É o Senhor! Quando Pedro ouviu isso imediatamente cingiu seu corpo com a túnica, pois, estava nu (em todos os sentidos), ou seja, se preparou para encontrar o Senhor. O Evangelho revela que Jesus lhes preparou uma ceia (imagine poder comer, estar pertinho de Jesus). Há ainda uma importante revelação quando Jesus pergunta a Pedro, por três vezes, se ele O amava. Na terceira vez, Pedro se entristece com o questionamento. Ele não compreendia que a pergunta incisiva de Jesus era para que o apóstolo confirmasse seu amor, sua escolha pelo Senhor, recebesse a cura e fosse inundado, banhado no Espírito Santo.

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Por essa revelação podemos compreender que por mais que façamos a escolha por Jesus é necessário, além da decisão, sobrepujarmos nossas vontades e paixões, renunciarmos ao pecado e, o mais importante: sermos banhados no Espírito Santo, recebermos a Graça. Sem essa Presença estaremos cegos aos chamados de Deus.

A “cegueira” espiritual não precisa ser inevitável, como o foi para Judas. Mas como retirarmos as escamas de nossos olhos, assim como aconteceu com Paulo?

Para tanto, seria importante refletirmos sobre quais escolhas e renúncias temos feito; se há em nós a decisão por Jesus. Separarmos tempo para estar em Sua Presença, para ouvir o que tem a nos dizer. E como ouvir a Deus diante de tanto “ruído”; como ouvir se não silenciarmos (as correrias, redes sociais, distrações, em meio a tantos compromissos, discussões…)

Recordo que na mocidade ficava inquieta tentando entender como acontece a Presença do Espírito Santo, nas pessoas como em mim mesma, o que se passa em nosso interior e como saberemos se temos ou não Sua Presença. Com o passar do tempo compreendi que não ocorre em um passe de mágica, talvez nem mesmo sentiremos emoções fortes, mas, poderemos comprovar o Espírito por meio de nossas atitudes, por nossas ações no bem. Compreendi que é necessário que sejamos “banhados” no Espírito, como ocorreu com Pedro e os demais apóstolos, com tantos mártires e Santos que devotaram suas vidas a Deus.

Enfim, se estudarmos os textos sagrados veremos que, a partir do momento em que houve a decisão pessoal, em que abraçaram a humildade e a obediência eles reconheceram o Senhor. Inundados pela força do Espírito Santo puderam completar suas jornadas terrenas, fortalecidos e capacitados para enfrentar todos os problemas, tribulações, dores e até mesmo a morte.

Porque o Senhor caminhava com eles!

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com

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