Os dias passam, amanhecem e entardecem, mas a saudade persiste, como uma carta que nunca é lida, sempre endereçada ao coração. Onde ela mora, ninguém sabe ao certo, mas todos a conhecem, todos a sentem. Será que ela recebe correspondência? Talvez cada lágrima seja uma espécie de mensagem, enviada ao vento, para que a saudade as receba e as guarde em algum lugar secreto.
Agora sentado nas margens do caminho que levam sonhos e alimenta a esperança dos dias que estão por vir. O momento e o instante refletem a nossa condição humana diante do imponderável.
O momento é vazio, o instante é silêncio, e ouvem-se os ecos da sua fala que ressoam e se misturam ao som do vento. A ausência parece ter uma textura própria, um silêncio que preenche os espaços e voa às alturas como um pássaro em busca do seu sonho. A partida, mesmo que esperada, traz consigo a ferida invisível, aquela que sangra silenciosamente, sem alarde.
E a saudade, essa companheira invisível e persistente, começa a se moldar no ar. Imagino-a como uma figura etérea, feita de nuvens densas e nebulosas, carregando em si todas as lembranças que resistem ao tempo. Se pudéssemos vê-la, talvez fosse como um véu translúcido, que nos envolve sem nos sufocar, lembrando-nos a cada instante de quem partiu. Seus contornos seriam feitos de memórias – as boas, que aquecem o coração, e as amargas, que provocam aquele nó na garganta.
E as lágrimas tecem as faces do imaginário com sensibilidade e com um cuidado amoroso para compor os versos de uma poesia cheia de ternura. Os caminhos ainda não percorridos, os passos que ainda não foram dados. E os jardins da vida com flores exuberantes e perfumes de essências com sabores de sonhos. Para essas flores, a primavera será eterna, e os dias… nem todos os dias são leves; há dias modorrentos em que a vida perde um pouco do seu colorido. Como seria a saudade se pudéssemos vê-la?
Enquanto brinco com as palavras, tentando capturar a essência desse sentimento, percebo que a saudade é, na verdade, uma artista. Ela pinta nossos dias com as cores da nostalgia, usando as lembranças como pincéis. E, nesse quadro que ela desenha, cada traço é uma despedida, cada lembrança, uma ausência. Como seria a saudade se pudéssemos vê-la?
Quero imaginar um painel, um desenho universal, onde a saudade toma a forma de uma longa e lírica poesia. O poeta, talvez, tenha se escondido na outra margem do rio, onde navegadores e sonhadores se encontram. Talvez ele seja o próprio rio, onde as águas profundas refletem a sabedoria e a calma das manhãs de primavera. O rio que, silenciosamente, alimenta o ser e nos extasia com a profundidade da beleza humana. Como seria a saudade se pudéssemos vê-la?
Nesse emaranhado de sentimentos, o que somos se mistura ao que sentimos. A noite semeou estrelas ao sabor do luar, e o sol amanheceu para vivermos mais. Com as linhas do horizonte, escrevi a saudade, e com as cores dos sonhos, pintei a face da vida sob o olhar do infinito. Como seria a saudade se pudéssemos vê-la?
Em dias de tristes momentos e instantes em lágrimas, tantas perguntas ficam sem respostas, tantos sorrisos se transformam em saudade. Uma vida e tantas outras vidas sentindo a ausência. A ausência de quem soube ser, inteiramente, presença. Com maestria e leveza, ele tocou corações apaixonados pela vida. Como seria a saudade se pudéssemos vê-la?
O legado que Ele deixou é como uma missão para todos que tivemos o privilégio de presenciar e desfrutar do seu entusiasmo frente à presidência do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Ainda estamos entendendo a sua partida, e aprendendo a trabalhar sem a sua presença. A ausência, o vazio e a lacuna permanecerão, assim como a sua imagem e seus ensinamentos. Tudo será um desafio, um processo didático-pedagógico a ser enfrentado. Como seria a saudade se pudéssemos vê-la?
Mas, ao mesmo tempo, a saudade é uma guardiã. Ela preserva o que é valioso, o que não pode ser esquecido. E talvez seja essa a sua missão, manter vivos os momentos que, de outra forma, desapareceriam nas brumas do tempo. Como seria a saudade se pudéssemos vê-la?
E assim, enquanto os dias continuam a se suceder, levando consigo as cores do amanhecer e do entardecer, a saudade permanece, como uma presença constante, silenciosa, mas sempre presente. As pessoas queridas não morrem apenas se ausentam e de tempo em tempo as recordações e as lembranças reavivam em nós a sublime presença de quem nunca e jamais nos deixou. Deus é o nosso porto seguro, Ele é a esperança, e só Nele há amor. Ele é a misericórdia e só Nele há o perdão. Ele é o alimento e só Nele há saciedade. Ele é amor e só Nele há paz. Ele é a vida eterna e só Nele, somente Nele há eternidade. Ele é o amor que nos ama incondicionalmente.
Luiz Carlos de Proença – Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito-SP
Autor do livro – O abraço do tempo –