Sentado em frente à tela do computador, pensando em algo para escrever, sem saber ao certo sobre o quê, decidi abordar a política, um tema bem apropriado para o momento, pois o período eleitoral está apenas começando. A temporada de caça aos votos foi iniciada. Até o dia da eleição, esse será o cenário político que dominará o país: as eleições municipais. Porém, o cenário atual e os resultados nas capitais já nos dão os rumos para 2026.
As campanhas eleitorais são carregadas de promessas e propostas, muitas vezes vazias. Em tempo de eleição, as palavras se multiplicam, ecoando nas ruas, nas redes, nos discursos inflamados dos palanques. É um espetáculo em que o povo é, ao mesmo tempo, plateia e protagonista, esperando que as promessas feitas no calor da campanha se materializem em atos concretos.
Mas, com o passar do tempo, algo curioso acontece. As palavras, antes vibrantes e cheias de esperança, começam a perder força. O que era uma promessa firme transforma-se em um eco distante, quase imperceptível. O político, outrora aclamado como o melhor e que irá resolver os problemas da gestão pública e da vida nos seus munícipes, torna-se uma figura distante, ocupada com reuniões, alianças e jogos de poder. A conexão com o povo, que parecia tão forte durante a campanha, dissolve-se na complexidade dos corredores do poder.
Infelizmente, o momento político em que vivemos, no qual a política deveria ser uma forma de prestar bom serviço à população, um serviço público de qualidade, transforma-se em um jogo de interesses. Aquelas promessas de mudanças profundas e transformadoras são substituídas pela manutenção do status quo, pela busca incessante pelo poder a qualquer custo. E o povo? O povo, mais uma vez, acreditou em promessas que se perderam em si mesmas.
Aqueles que depositaram sua confiança na urna muitas vezes são deixados à margem, com sua voz se perdendo em meio ao ruído das negociações políticas. Parece que, depois das eleições, o povo se torna apenas um detalhe.
Um dos momentos cruciais desse processo são os debates, que deveriam ser sobre ideias e propostas que atendam às necessidades mais latentes da população, e que ofereçam visões de futuro. É isso que se espera de alguém que se diz preparado tanto para o cargo no executivo quanto para uma cadeira no legislativo.
No entanto, comumente assistimos, ao invés de propostas, ataques pessoais, uma guerra de narrativas em que a verdade é a primeira vítima. Em meio a tudo isso, a política, que deveria ser uma ferramenta de transformação social, converte-se em um espetáculo de vaidades, onde a imagem vale mais do que a substância, e o marketing político substitui o comprometimento com o bem comum.
E assim, somos impulsionados, a cada novo ciclo eleitoral, a acreditar que o futuro será melhor. E a esperança é restabelecida, mesmo que timidamente. Ainda queremos acreditar que as coisas podem mudar, que a política pode voltar a ser um espaço de diálogo sincero, de construção coletiva, de soluções reais para problemas reais. Mas a cada nova decepção, essa esperança se desgasta um pouco mais, corroendo o tecido social, alimentando o cinismo e a descrença nas instituições.
É possível ainda acreditar que a política pode e deve ser diferente. Mas, para que isso aconteça, precisamos mudar nossas atitudes. Nossa participação não se encerra nas urnas, com os votos naqueles que escolhemos. Somos responsáveis por aqueles que elegemos. É nossa responsabilidade, como cidadãos e cidadãs, fiscalizar e cobrar constantemente dos eleitos aquilo que foi prometido. Isso pode ser feito de diversas formas: acompanhando as ações dos eleitos, participando de discussões públicas, e pressionando por transparência e ética na política.
A boa política precisa ser resgatada; esse é o desafio que se coloca diante de nós. Como sociedade, somos parte do problema, assim como somos parte da solução. É necessário reaproximá-la das pessoas, de suas necessidades reais, de seus anseios mais profundos. Por isso, é fundamental romper com a lógica do poder pelo poder e resgatar o ideal de que governar é servir, é construir um futuro melhor para todos, e não apenas para alguns privilegiados.
Finalizo com duas citações sobre política: A primeira é do filósofo Platão: “Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”. A segunda é do dramaturgo e romancista Bertolt Brecht: “Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem.”
Luiz Carlos de Proença – Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Capão Bonito SP – Autor do livro – O abraço do tempo –