Publicado desde 1969
Fundado por José Carlos Tallarico

Por que os gerasenos expulsaram Jesus da cidade?

O mal moral é como um ácido que come a alma da pessoa. Primeiro ele a enfraquece, levando-a a se deteriorar e desmoronar; então ele a consome aos poucos, até que a única coisa remanescente seja uma casca vazia – uma casca vazia em que o mal pode viver confortavelmente. Anthony Destefano

Durante muito tempo essa passagem do Evangelho passou despercebida para mim. Não havia prestado atenção na gravidade da atitude do povo e achei difícil compreender o motivo de pedirem a Jesus que se retirasse da cidade. Como assim? Ele não fez o bem; não libertou o homem que sofria com uma legião de demônios? Essas questões ficaram remoendo em meus pensamentos.

“Navegaram para a região dos gerasenos. Mal saltou em terra, veio-lhe ao encontro um homem dessa região, possuído de muitos demônios; há muito tempo não se vestia nem parava em casa, mas habitava no cemitério. Ao ver Jesus, prostrou-se diante dele e gritou em alta voz: “Por que te ocupas de mim, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te, não me atormentes!” Jesus ordenara ao espírito imundo que saísse do homem, perguntou-lhe: “Qual é o teu nome?”. Ele respondeu: “Legião!” (Porque eram muitos os demônios que nele se ocultavam.). E pediam-lhe que não os mandasse ir para o abismo. Ora, andava ali pastando no monte uma grande manada de porcos; rogaram-lhe os demônios que lhes permitisse entrar neles. Ele permitiu. Saíram, pois, os demônios do homem e entraram nos porcos; e a manada de porcos precipitou-se pelo despenhadeiro, impetuosamente no lago, e afogou-se. Então, todo o povo da região dos gerasenos rogou a Jesus que se retirasse deles, pois estavam possuídos de grande temor.”

Em busca de respostas, fui estudar atentamente o texto sagrado, porém, quanto mais meditava, mais dúvidas surgiam, não entendia o sentido da rejeição. Após um bom tempo de inquietações (reconheço que tenho ideia fixa) compreendi o que ocorreu: eles conheceram Jesus, mas não O reconheceram. A verdade é que a presença de Jesus os incomodava, trazia a consciência de seus pecados. Não queriam que nada mudasse em suas vidas. Não queriam perder privilégios, que seus negócios fossem arruinados. Decidiram continuar no erro, no pecado. Não desejavam que suas ações pecaminosas fossem confrontadas com a luz de Deus. Não desejavam deixar a lama que os envolvia… Porque suas ações os igualavam aos porcos!

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Ao me deparar com essa revelação fiquei impactada e ao mesmo tempo com um profundo sentimento de tristeza. Não acreditava que alguém pudesse recusar a presença do Senhor dessa forma. Porém, ao meditar e comparar com minhas próprias ações, revendo meus passos, reconheço em mim traços dessa mesma recusa. A verdade é que é difícil aceitar os erros, pecados, pois a luz do Senhor nos faz ver o que não queremos ou não aceitamos em nós mesmos.

A presença libertadora de Cristo expõe (escancara) os pecados. Não tenho dúvidas de que Ele tem sido recusado no decorrer da história humana. O texto pode despertar tanto para o exame pessoal de nossos comportamentos, como revelar inúmeras situações que expõem a maldade humana. Veja a situação de sofrimento de milhares de imigrantes, expulsos, despatriados, atingidos pelo horror da guerra, pela fome; a tortura e a degradação de meninos e meninas que são explorados pela rede de pedófilos; o crime de genocídio infantil validado pelo aborto, dentre tantas outras que denunciam explicitamente a recusa da presença de Jesus.

E podemos nos igualar aos gerasenos se apenas conhecemos Jesus (o demônio também conhece, mas não O reconhece) mas não O reconhecemos. E como reconhece-lO? Pedro reconheceu pela revelação do Espírito Santo. Foi assim que pouco a pouco foi se modificando e conseguiu permanecer no Senhor. Assim como Paulo e tantos outros que fizeram grandes renúncias permitindo que Cristo transformasse suas vidas, porque havia em seus corações a inscrição: “Ordinavit in me charitatem” (Ordenou em mim a caridade).

O reconhecimento não é um processo mágico que envolve sentimentos ou emoções, nem mesmo a sensação de euforia, mas a busca contínua pela conversão, por estar e permanecer em Deus. Envolve uma luta particular em renunciarmos ao mal com constância; perseverarmos na Bondade diante de pequenos eventos diários que exigem de nós um comportamento cristão, compassivo e que podem revelar também um caminho para a santidade.

Podemos fazer a escolha de não recusarmos Jesus: pedirmos, constantemente, para que não nos abandone, que não se retire de nossas vidas, apesar de nossos pecados e falta de caridade. Pedir que dilate o nosso coração…. Que fique conosco, apesar de não O merecermos.

É importante observarmos nosso comportamento, principalmente diante de momentos (e pessoas) difíceis, para que saibamos quem somos de fato.

Para que não fiquemos parecidos com os gerasenos, que amavam seus porcos mais do que a Deus!

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com

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