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Fundado por José Carlos Tallarico

Por que João teve dúvidas?

João Batista foi um grande profeta. Jesus se refere a ele como sendo o maior de todos já nascido de uma mulher. Mas revela também que, mesmo assim, comparado ao Reino de Deus, ele é ainda o menor de todos. Diante disso, fico imaginando a dimensão do amor, do grau de bondade que deve haver nas pessoas que habitam ao lado do Senhor e tudo o quanto foi preparado para elas…

Os textos sagrados revelam que João foi concebido pela Graça de Deus, pois seus pais já eram idosos quando ele foi gerado. O evangelista Lucas revela o que ocorreu quando Isabel recebeu a visita de Maria:

“Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. De onde me vem a honra de que venha a mim a mãe do meu Senhor’.”

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Veja que João recebeu, por meio de Maria, o Espírito Santo, ainda no ventre de sua mãe. Veio ao mundo com a missão de ser o grande profeta, aquele que anunciaria a chegada do Messias. João batizou Jesus, viu o Espírito Santo descer sobre o Senhor, em forma de pomba. Ele reconheceu que Jesus era o próprio Deus.

Mas então, por que João teve dúvidas? Por que mandou perguntar a Jesus se Ele era realmente o Messias?

Fui me debruçar nos textos sagrados em busca de respostas. Queria saber o motivo da indagação de João. Porém, ao estudar os textos sagrados compreendi sua inquietação ou, por que não dizer, até mesmo o sentimento de abandono que ele poderia estar sentindo. Ele dedicou sua vida a Deus e apesar de toda a renúncia e entrega viu-se preso, prestes a ser decapitado, a enfrentar a morte.

O que não terá passado em seu coração… Talvez não compreendesse o motivo de continuar preso estando o Messias presente no mundo.

Tenho convicção de que a dúvida de João era (é) mais do que razoável. Somos humanos. Fomos programados para a vida. As dúvidas de João são compreensíveis, mas, e a de tantos que sequer tiveram grandes renúncias, que não deixaram tudo para trabalhar pelo reino e, diante de problemas cotidianos, dores, sofrimentos, blasfemam quanto à atuação do Senhor em suas vidas e duvidam até mesmo de Sua existência?

Como podemos cobrar algo de Deus – quem somos nós para tanto?

Quais as renúncias que temos feito?

De tudo quanto li e meditei tenho em meu coração que João queria ouvir da boca do próprio Deus o que ele já sabia em seu coração. Mas ele precisava da resposta. Ele, mais do que ninguém merecia a confirmação da presença do Messias entre nós. E ao receber a resposta, aceitou sua morte, pois sabia o que o aguardava: estar na companhia de Deus. Para sempre. Ele cumpriu sua missão. Compreendeu que a vinda do Senhor tinha um propósito maior que tudo quanto vivera e que ultrapassava qualquer dúvida ou especulação humana.

A história do profeta traz vários ensinamentos, dentre eles, a de que precisamos descobrir o sentido de nossas vidas e de confiar em Deus. João confiou. E olha que ele tinha motivos para duvidar, desistir.

Mas, para confiarmos, necessitamos da fé. Não somos obras do acaso: temos um propósito inscrito em nossas almas. Talvez o mundo seja excessivamente ruidoso e por isso, haja dificuldade em escutar o chamado interior. Dificuldade em parar, silenciar. Ouvir o que Deus quer nos dizer.

Não sei se temos condições de compreender os eventos que enfrentamos, as dificuldades, sofrimentos, ou mesmo o sentimento de abandono que esteja habitando em nosso coração. Creio que todos passamos por momentos de angústia, provações. Talvez a dúvida faça parte da nossa jornada terrestre.

Mas, apesar de tudo que estejamos enfrentando, devemos pedir para o Senhor que aumente a nossa fé. A fé é um dom de Deus, resulta da Graça. Por isso é importante pedirmos por ela, incessantemente.

E é importante termos cravado em nossos corações a certeza que João tinha: a de que somos maiores até mesmo que todos os problemas, dores, porque a vida tem um sentido maior.

Tenho em meu coração que João, ao final, não temeu a morte, pois, confiava no Pai. Sabia para onde caminhava.

Na certeza de que a morte é apenas um acidente no percurso!

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com

 

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